Em entrevista exclusiva ao Portal SmallCaps, a Diretora de RI Alessandra Gadelha da Springs Global, dona das marcas MMartan, Artex e Santista, falou sobre o momento atual da empresa, dos desafios do Coronavírus e da retomada da economia.

1) O grupo Springs já existe há mais de 50 anos e já atravessou diversas crises. Pela experiência alcançada, como a companhia entende que se darão os próximos passos da economia? Após o final da quarentena, quanto tempo seria esperado para a normalização de suas operações?

Esta crise é única, no Brasil e no mundo, então, infelizmente, não temos tanta visibilidade do que irá ocorrer nos próximos meses.

Na nossa perspectiva, a maior queda de faturamento ocorrerá no mês de abril, quando o comércio deve permanecer fechado por período significativo, se não o mês todo, nos principais centros urbanos.

Acreditamos que no mês de maio ocorra uma retomada gradual das vendas, à medida que as cidades começarem a permitir a abertura do comércio.

No segundo semestre, esperamos que as restrições terminem e que as vendas irão se recuperar. Vivenciaremos um “novo normal”, onde precisaremos entender o impacto da crise no nível de desemprego e na renda média das famílias.

Acreditamos que, até termos uma vacina para imunização da população contra o COVID-19, as pessoas tenderão a ficar mais tempos nas suas residências, para sua segurança, e, assim, provavelmente irão investir em produtos para o lar, para torná-lo mais seguro, do ponto de vista de higiene, e mais aconchegante. Assim, acreditamos que, quando o comércio reabrir, teremos uma recuperação mais rápida que outros segmentos do varejo.

Esta é a nossa perspectiva, nossa melhor leitura do momento atual, mas, como eu mencionei, esta é uma crise única e, eventualmente, o cenário pode mudar nos próximos dias ou semanas.

2) Uma alternativa para o fechamento do varejo são as vendas online. Como a Springs vem trabalhando nesse sentido para ampliar esse segmento? Vocês estão presenciando que tipo de crescimento nesse tipo de venda?

Desde o fechamento das lojas físicas das redes Artex e MMartan, as nossas vendas pela Internet mais do que dobraram, em relação a nossa estimativa de vendas, que já considerava um crescimento significativo em relação ao ano anterior.

Mantemos o modelo de franquia digital onde nossos franqueados participam das vendas do e-commerce, com as vendas direcionadas para aquele franqueado que possui os produtos comprados em estoque e que está mais próximo do endereço de entrega, o que possibilita alguma receita para os franqueados, mesmo com a sua loja física fechada.

Adicionalmente, estamos criando links únicos promocionais para os franqueados e para os nossos colaboradores de lojas próprias distribuírem para os seus clientes e, para cada venda convertida nos nossos websites, será paga uma comissão. Estamos sendo mais promocionais para aumentar o volume de vendas pelos canais digitais e, consequentemente, ajudando os nossos franqueados e os colaboradores de nossas lojas próprias nestas conversões e na geração de receita.

Iniciamos a mesma abordagem de link único, com pagamento de comissão, para pequenos e médios varejistas multimarcas, tentando manter um nível de renda para eles também.

3) Em relação à parte fabril, a empresa já está trabalhando com capacidade reduzida? Há algum tipo de insumo que esteja faltando?

Temos tido sucesso, até o momento, e conseguido manter as nossas fábricas em funcionamento, adotando medidas para a proteção dos nossos colaboradores.

Tivemos que fechar duas unidades industriais por decisões de autoridades locais: uma localizada na Argentina, onde o governo estabeleceu que somente atividades essenciais poderiam ser mantidas durante a quarentena, e a outra localizada em Santa Catarina, que permaneceu fechada por alguns dias, por decisão do governo, mas que já retomou suas operações.

Estamos nos preparando para o fechamento temporário de duas unidades industriais, cujos os colaboradores entrarão em processo de treinamento usando a lei de lay off, de forma a absorver a queda de demanda no segundo trimestre.

4) Na linha de contas a receber, seus clientes estão buscando maior flexibilização em termos de prazo? Qual a postura da Springs nesse sentido?

O mês de abril será um mês difícil para todos, devido à redução das vendas, uma vez que o comércio físico estará fechado. Na medida do possível, estamos concedendo prorrogação de títulos para os nossos clientes.

Outra ação que estamos fazendo para ajudar os nossos clientes, neste caso específico, direcionada aos pequenos e médios varejistas, é a distribuição de links promocionais únicos, rastreáveis, para eles distribuírem para os seus clientes e receberem comissão nas vendas convertidas nas nossas lojas virtuais. Deste modo, viabilizamos algum nível de receita para estes clientes, mesmo com as suas lojas fechadas.

5) A partir de qual momento que a Springs começou a sentir uma redução significativa da demanda de seus produtos? Qual o percentual de queda nas vendas frente ao planejamento inicial que estão ocorrendo no momento?

No mês de março já fomos impactados por cancelamentos ou suspensões de entregas, uma vez que nossos clientes tiveram que fechar seus comércios no Brasil.

Como já mencionado, entendemos que o mês de abril é quando teremos o maior impacto na queda de receita e uma retomada gradual, a partir do mês de maio, à medida que ocorrer a reabertura do comércio.

No momento, estimamos uma perda de venda da ordem de 40% no segundo trimestre, em relação ao valor estimado do nosso orçamento. Iremos ajustar o nível de produção a este novo nível estimado de demanda, interrompendo temporariamente a produção em duas fábricas e, ao mesmo tempo, colocando os seus colaboradores em treinamento, de acordo com a legislação de lay-off do Brasil.

6) Os projetos de novos produtos que estavam em desenvolvimento se encontram em andamento ou precisaram ficar agora em stand-by? 

A estratégia de ampliação de portfólio de produtos e de crescimento dos canais de distribuição continua. O nosso foco de crescimento e de diversificação será em áreas e categorias que demandem baixo capital e que sejam escaláveis. Esta estratégia faz mais sentido ainda no cenário de restrição de capital e de menor renda média das famílias, e ao mesmo tempo, de oportunidade de maior investimento das famílias em produtos para o lar.

No ano passado, decidimos expandir o nosso mercado endereçável de produtos de cama, mesa e banho, de montante de R$ 12 bilhões no Brasil segundo o IBOPE, para produtos de casa e decoração, com mercado total estimado em R$ 86 bilhões, a preços ao consumidor.

Assim, iniciamos a venda de produtos não têxteis nos nossos canais digitais, como objetos de decoração, produtos de cozinha e mesa posta, através de parceiros e, portanto, com baixo risco e baixo capital de trabalho.

Neste ano, lançaremos a oferta de colchões e sofás modulares. A ampliação de oferta de novas categorias de produtos possibilita o crescimento de nossa receita e o fortalecimento das nossas marcas, aumentado o valor médio e a frequência de compra de nossas marcas pelos nossos consumidores.

Ademais, estamos também investindo na oferta de soluções tecnológicas para o varejo, como a nossa tecnologia de frente de loja PIX. Em 2019, começamos a oferecer para os nossos clientes multimarcas, o sistema de frente de loja PIX, que traz o conceito de multicanalidade e permite que os varejistas distribuidores de nossos produtos possam também participar das nossas vendas online, entregando ou disponibilizando os produtos para retirada na loja, e oferecer para os seus clientes produtos que não tenham em estoque físico, em catálogo online, com entrega ou retirada futura, proporcionando uma melhor experiência de compra para os nossos clientes.

Temos que nos ajustar para conviver com o cenário desafiador do curto prazo, mas não podemos perder o foco no médio e no longo prazo. Estamos engajados e motivados a sermos a maior, a melhor e a mais digital empresa verticalizada, no segmento Lar & Decoração, das Américas.

Acreditamos que a ampliação de portfólio de produtos e de marcas, o crescimento dos canais de distribuição incluindo maior número de lojas franqueadas, e a oferta de soluções tecnológicas para o varejo, como nossa tecnologia de frente de loja PIX, serão as alavancas de crescimento da companhia nos próximos anos, onde estimamos uma participação mais equilibrada do atacado e do varejo na nossa receita ampliada.

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NÃO SE TRATA DE RECOMENDAÇÃO DE COMPRA OU VENDA

Sobre o Autor: Victor Kietzmann Junior é Economista formado pela FEA e atua individualmente há mais de 20 anos no mercado de ações.

Sobre a entrevistada:

Alessandra Eloy Gadelha. Diretora de relações com investidores da Springs Global Participações S.A., desde 2015. Formada em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui mestrado em Administração (MBA) pelo Rensselaer Polytechnic Institute, localizada no estado de Nova Iorque, nos EUA. Possui certificação internacional de analista financeiro, Chartered Financial Analyst Certification – CFA e certificação de Conselheirode Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Alessandra tem 18 anos de experiência na área financeira, principalmente em relações com investidores e planejamento estratégico, tendo trabalhado na Vale S.A., entre 2002 e 2010, e na Mills Estruturas e Serviços de Engenharia S.A., entre 2010 e 2015. 

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