Uma das poucas empresas que fizeram seu IPO em 2020, com sucesso, foi a Aeris. Fabricante de pás eólicas para o promissor mercado de energias sustentáveis, a empresa já apresenta valorização de 43% em pouco mais de 1 mês (considerando a data de hoje, 21/dez/20), após abrir capital no valor de R$ 5,55 por ação, que deixou a companhia com caixa líquida.

Os recursos obtidos, quase todos primários, serão utilizados para:

  • Expansão da Capacidade Produtiva (deve dobrar até final de 2021);
  • Modernização das atuais instalações fabris e processos de produção;
fonte: RI Aeris e Portal Small Caps

Trazendo em reais, a capacidade instalada deverá girar em torno de R$ 6 bilhões de receita anualmente (ou R$ 5 bilhões, pensando em uma utilização esperada próxima a 75%). A receita da companhia vem sendo acompanhada de ótima rentabilidade: no terceiro trimestre, o retorno sobre capital investido (ROIC) foi de 25,5%, um dos indicadores mais altos das empresas industriais listadas na bolsa brasileira.

Na verdade, o setor como um todo de energias renováveis, deverão seguir crescendo em ritmo acelerado pelas próximas décadas, o que traz muito otimismo à Aeris, que ainda espera um aumento da terceirização de seus clientes no que se refere à produção de pás eólicas.

ENTREVISTA

Para entendermos mais detalhes sobre concorrência, vantagens competitivas, riscos e crescimentos, fizemos entrevista exclusiva com a companhia. Boa leitura!

  1. Hoje a empresa apresenta forte dependência financeira de poucos clientes. Como esse risco é mitigado? Como funcionam os contratos de fornecimento? Há garantia firme de compra?

Possuímos poucos clientes devido ao fato do mercado ser altamente concentrado. Nossos clientes possuem mais de 80% de Market Share no mercado alvo da Aeris (mundo, exceto China). Nossos contratos possuem cláusula de “take or pay”, ou seja, o cliente está sujeito à penalidade caso não cumpra as obrigações mínimas de compras anuais previstas em contrato. Além disso, o preço de venda das pás também varia conforme taxa de ocupação da capacidade dedicada ao cliente, fazenda com que a Aeris mantenha o mesmo nível de ROIC ao longo do contrato independente do volume de pedidos colocado pelo cliente.

2. Qual a capacidade atual de fabricação da empresa é o quanto isso representa em termos de receita média? Com os novos projetos de expansão,  qual seria o novo patamar a ser atingido?

A capacidade estimada com base na área fabril e no tamanho médio das pás salta de 4,5 GW/ano em meados de 2020 para 9 GW/ano no final de 2021. Para fins de projeções, estimamos receita líquida entre 130 e 150 kUSD/MW entregue e taxa média de ocupação da capacidade por volta de 75%.

3. No terceiro trimestre, houve redução do percentual de vendas ao mercado externo. Qual o motivo disso? O que devemos esperar a partir de agora?

O volume de exportações foi mantido, a queda em percentual da receita total se deve ao forte crescimento observado nas entregas para o mercado local.

4. O mercado de pás eólicas é ainda pouco terceirizado pelo fabricantes de aerogeradores. Como vocês enxergam esse movimento para os próximos anos? Há expectativa de conseguirem buscar novos clientes ou o crescimento esperado deverá vir de um maior volume dessa terceirização?

Os OEMs estão continuamente aumentando o % de terceirização das pás. Estimamos que a maior parte dos OEMs irá terceirizar entre 70% e 80% das pás produzidas e manterá os outros 20% a 30% de verticalização.

5. Empresas concorrentes no Brasil e no mundo vem enfrentando dificuldades financeiras no setor. Como a Aeris vem tendo sucesso nesse cenário desafiador?

Hoje a eólica tem grande destaque na matriz de energia, com uma participação de mercado de 8% chegando a uma participação de 21% em 2050 e sendo uma das fontes mais baratas. Entendemos que com a demanda de eólicas crescendo, a demanda por fabricação de pás acompanhará esse crescimento.

A respeito de competidor, o único competidor comparável à Aeris é a empresa norte-americana TPI Composites, a qual não apresenta nenhum problema de liquidez. As margens da TPI foram negativamente afetadas nos últimos 2 anos por uma série de fatores que nós entendemos ser não recorrentes.

6. A China é conhecida por possuir concorrentes menores e focados na venda local. Vocês enxergam esses fabricantes como potenciais futuros concorrentes? Quais seria as barreiras de entrada que vocês possuem?

Não consideremos os fabricantes de pás chineses como concorrentes nos mercados nos quais atuamos. A representatividade dos materiais diretos na composição do custo do produto (entre 70% e 80%) faz com que os chineses não sejam mais competitivos que a Aeris quando eles têm que utilizar a mesma base de fornecedores, os quais são sempre homologados pelos nossos clientes. Atualmente, a Aeris recebe mais de 80% dos insumos do mercado Europeu, Norte Americano e Brasileiro. Além disso, o custo da mão de obra Chinesa não apresenta diferencial em relação à mão de obra no Brasil. As maiores vantagens da Aeris decorrem da melhor eficiência no uso de matéria prima (baixo desperdício) e na captura dos ganhos de escala (temos uma das, senão a maior fábrica de pás do mundo). Estas vantagens são geradas pela forte cultura da Aeris, que conta com mais de 5 mil profissionais engajados.

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NÃO SE TRATA DE RECOMENDAÇÃO DE COMPRA OU VENDA

Sobre o Autor: Victor Kietzmann Junior é Economista formado pela FEA e atua individualmente há mais de 20 anos no mercado de ações.

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