Em linha com o pessimismo vivido pelas principais varejistas da Bolsa, a Via (antiga Via Varejo) encerrou 2022 com suas cotações caindo 54%, mesmo após uma queda de 67% no ano anterior. Porém, durando o call de resultados do 3t22, a companhia demonstrou alguns motivos para que o acionista possa ter um novo ano com recuperação.
A Queda
Estamos vivendo duas situações especialmente nocivas para o setor varejista:
- Economia fraca: com pouco crescimento econômico, gastos tidos como não essenciais, como TV e celular acabam sendo postergados, ainda mais quando combinados com o problema a seguir;
- Taxa de juros: em momentos de pressão inflacionária, o aumento de taxa de juros ocorre justamente para frear o consumo, forçando uma estabilização de preços. Porém, empresas de capital intensivo como as varejistas, sofrem duplamente: além de perderem vendas, aumentam suas despesas financeiras, impactando seu lucro líquido.
Sejamos sinceros: ainda não há motivos para contarmos com uma economia mais forte e não há visibilidade suficiente para afirmarmos quando os juros começarão a cair.
Assim, o otimismo da Via está muito mais ligado à fatores internos e operacionais, os quais apresentaremos em mais detalhes ao longo da matéria.
Parceria Bradesco
Em novembro do ano passado (não apareceu no resultado do 3t22), a Via anunciou a renovação de sua parceria com o Bradesco no que tange aos seus cartões de crédito. Essa renovação representou a entrada de R$ 1,75 bilhões nos caixas da companhia ainda no 4t22. Desse valor, R$ 350 MM são signing bônus (bônus pela assinatura de contrato) e o restante antecipações de comissões.
Para se ter ideia da representatividade dessa operação, o valor que já entrou no caixa da companhia é quase metade do valor de mercado da Via, próximo a R$ 4 bi.
A antecipação desse acordo foi possível apenas pelo atingimento de produção de cartões acima do esperado, já que a previsão inicial era para o ano de 2029.

Demandas Trabalhistas
Em novembro de 2021, a Via surpreendeu (negativamente) o mercado, aumentando seu provisionamento para demandas judiciais trabalhistas em R$ 1,2 bilhões, derrubando ainda mais suas cotações após o anúncio.
Para o ano, era esperada, inicialmente, a saída de caixa de R$ 1,5 a R$ 2 bilhões desses processos. Porém, um trabalho mais exitoso nesse sentido permitiu uma redução sensível nessa expectativa, que foi revista para algo entre R$ 0,9 e 1 bilhão.
Perguntamos para a companhia se poderia haver uma reversão de parte desse provisionamento agora no 4t22, mas a equipe de RI não pôde garantir esse potencial ajuste.

Monetização de Créditos Tributários
Junto com o fato relevante sobre o aumento das provisões trabalhistas citadas acima, a companhia fez um plano de ação para acelerar seus créditos tributários, de forma a ter um casamento entre entrada e saída de caixa.
Como a monetização desses créditos vem acontecendo dentro do esperado, há uma expectativa de uma entrada de caixa líquida próxima de R$ 1 bilhão para o ano de 2022 (previsão de monetização entre R$ 1,8 e 2 bilhões).
Importante reforçar que, a expectativa de monetização nos próximos 2 anos, serão ainda acima ao do ano de 2022, próximos a R$ 2,4 bilhões anuais.

Endividamento e Cronograma de Amortização
Boa parte das boas notícias citadas acima, caso de fato aconteçam, devem ajudar muito na percepção de risco da Via, especialmente no que tange à sua capacidade de pagamento de dívidas:

No cálculo feito pela empresa, que inclui recursos como antecipação de recebíveis de cartões de crédito e já contabilizando a entrada dos R$ 1,75 bilhões, sua liquidez seria de R$ 5,2 bilhões, capaz de pagar toda sua dívida até o ano de 2029.
Comentários SmallCaps
A maioria das varejistas da Bolsa, vem sofrendo grande desvalorização nos últimos 2 anos. Caso a economia e, principalmente, a taxa de juros comecem a melhorar, o setor como um todo deve começar a ter dias melhores.
Especialmente a Via, parece estar com múltiplos ainda mais descontados em relação a seus principais pares, como Magalu (MGLU3) e Americanas (AMER3).
Caso ela realmente entregue o que vem apontando em seus últimos relatórios e comunicados, há uma boa chance dessa diferença de múltiplos iniciar uma redução. Ou seja, ela poderia subir mais do que seus pares.
Porém, reforçamos que, sem o arrefecimento da taxa de juros, setor como um todo seguirá operacionalmente muito prejudicado.
Abaixo, um comparativo mostrando um pouco sobre o desconto de Via em relação à Magalu, sua comparável mais direta:

Reparem que, mesmo com faturamento e margens semelhantes, Via negocia com valor de mercado quase 5x mais baixo e valor de firma de quase metade ao da Magalu.
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NÃO SE TRATA DE RECOMENDAÇÃO DE COMPRA OU VENDA
Sobre o Autor: Victor Kietzmann Junior é Economista formado pela FEA e atua individualmente há mais de 20 anos no mercado de ações.