Nessa segunda parte da entrevista, Werner Roger, da Trígono Capital, fala sobre projetos da Ferbasa (fesa4), suas vantagens competitivas e a dependência do setor de energia elétrica.

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SmallCaps: Quais as perspectivas dos projetos atuais da companhia: Produção de Coque (parceria estratégica), Casting Mashine (incremento de Fesi HP e redução de perdas) e Hard Lump (equipamentos de Raio-X para aumentar a produção do minério de cromo)?

Werner: O casting machine já foi duplicado para 40 mil toneladas/ano e se encontra em utilização, podendo ser rapidamente ampliado para 60 mil ton/ano, ou 50% da capacidade de FeSi75%.

O hard lump está utilizando 4 equipamentos para o minério retirado das minas subterrâneas e 2 para a pilha acumulada durante 50 anos, e que contêm ainda minério que não foi recuperado com a tecnologia anterior baseado na “catação” manual.

Carvão mineral e coque: conforme a empresa já divulgou, ela firmou contrato de longo prazo com empresa colombiana para fornecimento de coque de altíssima qualidade. Esta qualidade consiste em teor de fósforo muito baixo, que é um contaminante para o aço inox. A empresa estuda adquirir a mina na Colômbia, afastando o risco de chineses fazerem isso. Embora não divulguem (e também não sei), acredito que já tenham algum tipo de opção ou first refusal option.

Concluído os investimentos em raio-x (duas novas máquinas deverão ainda ser incorporadas), energia (70 a 100% auto-suficiência em 5 anos), cast-machine, exportação regular de minério de cromo (250 mil ton/ano), auto-suficiência em coque (potencial aquisição na Colombia), a empresa poderá investir em novos negócios como silício metálico grau metalúrgico (matéria prima para silício grau solar usado em painéis de energia fotovoltaicas). Em 2008, discutimos em AGO com conselheiros e acionistas, investimentos em silício metálico (preço é o dobro do FeSi75%) e expansão do FeSi75%. No entanto, veio a crise em 2008 e depois a empresa focou na questão energética, pois havia dúvidas sobre o contrato com a CHESF renovado em 70% da carga em 2015, o que impossibilitava novos investimentos devido o problema energético. A empresa chegou a comprar equipamentos de uma empresa que foi desativada investindo R$ 800 mil que custariam hoje R$ 10 milhões se adquiridos novos. O silício metálico segue quase o mesmo processo do FeSi75%, mas 50% mais eletro intensivo que o FeSi75%, o qual é 100% mais eletrointensivo que o ferrocromo. As matérias primas são as mesmas e a empresa dispõe de minas próprias de quartzo de elevada pureza e carvão vegetal, faltando apenas energia elétrica. A Ferbasa contou (ou ainda conta) com ex CEO da Dow Corning do Brasil (divisão de silício da Dow Chemicals), Marcos Jordão, com quem me reuni 3 vezes. Acredito que este investimento, em torno de R$ 100 mm para 20 mil toneladas/ano, poderá ser conduzido paralelamente com energia elétrica, mas não em Pojuca, pois o produto exige elevado nível de pureza e não pode estar no mesmo ambiente do FeCr.

Acredito que em 5 anos a Ferbasa poderá ser a empresa mais integrada e sustentável do mundo em FeCr e FeSi e com custos extremamente competitivos, especialmente devido energia própria, carvão vegetal e mina de cromo produzindo lump com tecnologia de raio-x.

   

SmallCaps: Como estão as reservas da Ferbasa nas Minas e a de seus concorrentes?

Werner: A Ferbasa é a única produtora de ferrocromo das Américas, com reservas estimadas de 40 milhões de toneladas de cromita, equivalente a 80 anos de produção. Cerca de 72% das reservas mundiais de cromita estão na Africa do Sul. No Brasil, a empresa é monopolista.

O mercado de ferrocromo é determinado pela produção de aço inox pela China e suas matérias primas, e a dependência da África do Sul, tanto pela cromita, quanto pelo ferrocromo. O desequilíbrio deste relação está próxima e evidente.

SmallCaps: Existe algum estudo sobre cash-cost da produção por produtor ou por país em relação ao ferrocromo e ferrosilício (pensando em paises e/ou empresas)? Quais as vantagens competitivas da Ferbasa em relação aos seus concorrentes?

Werner: Não existem dados compráveis ao FeSi, já que 70% da produção mundial está na China. A Ferbasa tem a enorme vantagem de produzir o FeSi75% apenas com carvão vegetal próprio, capturando 1 tonelada de CO2 para cada tonelada de FeSi75%. Tudo isso em 65 mil há de florestas, dos quais 26 mil reflorestados com eucaliptos. Já a China, gera 9,5 toneladas de CO2 por tonelada de FeSi75% produzido (3 de coque e 6,5 de energia térmica), considerando o coque e energia de fonte térmica, enquanto Ferbasa usa 100% energia hidroelétrica e eólica.

A Ferbasa possui minas próprias de quartzo de elevada pureza. O FeSi possui praticamente 100% de custos em moeda local, 100% verde, e depende apenas de energia elétrica de terceiros, sendo esta sua principal vantagem. A empresa produz 50% do FeSi75% do Brasil e exporta 85%, tendo acabado de dobrar a capacidade do HP (high purity) para 40 mil ton (das 120 mil toneladas de FeSi), com prêmio de até 50% no preço e todo ele destinado à exportação (principalmente Japão, de onde veio sua tecnologia nos anos 80). Os negócios de FeCr da Glencore produziram em 2019 uma margem de EBITDA de 7,3% e margem negativa de 25% com vendas de 1,84 mm de ton de FeCr. 

 SmallCaps: Alguns críticos enxergam como ponto preocupante a questão do contrato de energia elétrica que a Ferbasa possui junto à Chesf (contrato de longo prazo), com preços praticados abaixo dos de mercado, sendo que a Chesf poderia ser privatizada. O senhor concorda com essas críticas?

Werner: Os preços praticados pela CHESF são muito acima do mercado, e estas afirmações são completamente infundadas. A Ferbasa pode denunciar o contrato a qualquer momento. Os 70 MW comprados no mercado livre já possuem preço abaixo dos da CHESF. A Unipar(unip6) e AES(tiet11), anunciaram no final de 2019 uma JV para produzir 155 MW ao custo de R$4 mil/MW instalado com 50% de energia firme. Para a Ferbasa substituir 100% do contrato da CHESF nas mesma condições, necessitaria investir R$1,2 bilhões, com 30% de recursos de equity ou R$ 360 milhões, que em JV de 50/50 representaria para a Ferbasa R$ 180 milhões em dois anos para executar o projeto. Como auto produtora, é 100% isenta de impostos e encargos regulatórios, com custo estimado de R$110/MW ou 35% abaixo do preço da CHESF. A Ferbasa adquiriu grande conhecimento ao adquirir a BW, após 3 anos de estudos e já dois anos operando a BW com grandes ganhos de eficiência e custos em relação a gestão do Santander. A empresa acredita que poderá fazer um investimento de menor custo e vantajoso em relação ao realizado pela Unipar. Portanto, os críticos desconhecem completamente a empresa e a realidade do mercado energético no Brasil. A Ferbasa utiliza as duas principais consultorias do setor elétrico, PSR e Thymos há 5 anos, e avaliou mais de 80 propostas antes de adquirir a BW, muito mal gerida pelo Santander.

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Sobre o Autor: Victor Kietzmann Junior é Economista formado pela FEA e atua individualmente há mais de 20 anos no mercado de ações.

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