Tudo estava indo bem demais: Enjoei, a primeira loja on-line focado em second hands de vestuários a abrir capial, arrecadou R$ 1,13 bilhões em seu IPO, com R$ 619 milhões indo direto para o caixa da companhia. Em menos de 3 meses, suas ações se valorizaram quase 100%, chegando ao valor de mercado de quase R$ 4 bilhões, no início de 2021.

Atualmente, as ações estão cotadas em R$ 0,94, compondo um valor de mercado de R$ 188 milhões, queda de 91% em relação ao preço de sua abertura de capital. Esse valor de mercado, por incrível que pareça, é menor do que todo o caixa líquido da companhia. Ou seja, se a empresa apenas “fechasse as portas” sem monetizar nenhum de seus ativos e distribuísse o caixa para seus acionistas, o montante por ação seria de R$ 1,51, ou seja, 60% a mais do que a cotação atual.

Enjoei faz parte de um grupo de empresas de growth (crescimento), cujas margens atuais são ruins, mas seu valor estaria no potencial de crescimento futuro, onde melhores indicadores financeiros se fariam presentes.

Em uma análise fundamentalista, para se encontrar o valor justo de um ativo, traz-se o fluxo de caixa futuro esperado para o valor presente, utilizando-se de uma taxa de desconto.

O maior problema está justamente nessa taxa de desconto: com os bancos centrais ao redor do mundo elevando suas taxas de juros, a taxa de desconto utilizada passou a ser consideravelmente mais elevada, reduzindo o valor presente (valor justo) das companhias em geral, mas especialmente mais para as teses de crescimento, cujo fluxo de caixa principal está concentrado no futuro.

Momento Atual Enjoei

Primeiro, importante entender a tese do investimento: os recursos do IPO seriam usados para expansão de usuários e vendedores (investimento em marketing) e na estrutura de TI para suportar esse crescimento, o que de fato minha ocorrendo:

O site se tornou tão grande, que hoje é o segundo maior em participação de mercado de toda categoria Moda no Brasil:

Diferentemente de um investimento de industrial em expansão (Capex), cujo efeito é muito baixo em seu DRE (Capex não entra como custo nem como gasto), esse investimento em marketing da Enjoei é classificada como gasto, corroendo diretamente sua lucratividade. Isso prejudica uma avaliação tradicional para esse perfil de companhia, o que poderia ser um dos motivos para essa expressiva queda dos papeis.

Sabendo disso, a empresa também resolveu mudar sua estratégia, desacelerando seus gastos, buscando uma maior rentabilidade de sua base de usuários atuais, com resultados já aparecendo nos últimos demonstrativos:

Próximos Passos

A companhia pretende seguir em duas frentes principais: maior receita e rentabilidade da base atual de clientes/vendedores e gastos mais controlados, focados em Moda, de forma a preservação de caixa. Ou seja, condicionará novos aumentos gastos em marketing a medida que seu lucro bruto cresça. Para isso, há algumas estratégias em andamento:

  1. Readequação de quadro de funcionários: a companhia promoveu alguma demissões, especialmente no 1t23, que inclusive geraram despesas não recorrentes de rescisões;
  2. Novas redução de incentivos e despesas de marketing, de forma a aumentar o Net Take Rate (esse é o indicador de quanto a companhia recebe em relação às vendas totais (GMV);
  3. Busca de novas linhas de receita: como uso de Adds no site e ganhos com o Enjubank, braço financeiro recém criado.

Opinião SmallCaps: Conversando com alguns analistas, a maior desconfiança em relação à empresa é a sua capacidade de gerar caixa (ou ao menos deixar de queimar). Primeiros passos parecem animadores, mas há ainda passos importantes para mostrar o que a nova estratégia poderia dar certo.

De fato, os principais indicadores vem evoluindo trimestre a trimestre, e a precificação atual (valor de mercado menos do que caixa líquido) pode ajudar na margem de segurança do comprador que acreditar na empresa.

O setor é muito promissor: second hand é muito mais representativo em países como os EUA, sendo que intuitivamente deveria ter maior relevância em países de menor renda per capta como o Brasil, o que sugere que o setor seguirá crescendo 2 dígitos nos próximos anos.

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NÃO SE TRATA DE RECOMENDAÇÃO DE COMPRA OU VENDA

Sobre o Autor: Victor Kietzmann Junior é Economista formado pela FEA e atua individualmente há mais de 20 anos no mercado de ações.

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