Fundada em 1922, como uma prestadora de serviços de Engenharia e Construção, ao longo dos seus mais de 100 anos, tendo participado de grandes e emblemáticas obras em todo o território nacional, a empresa passou por diversas transformações.

Em 1984, a Azevedo e Travassos foi a primeira empresa de engenharia a abrir capital na bolsa de valores, o que possibilitou à empresa investir no mercado petrolífero e se tornar a primeira empresa privada a explorar petróleo no Brasil.

Tendo sempre atuado em grandes projetos de infraestrutura, de 2005 a 2014 a empresa reduziu sua participação nesse segmento, o que a fez passar ilesa pela Operação Lava Jato, que viria a estourar em março de 2014.

Após o estourar de tal operação, a Azevedo e Travassos voltou a ser procurada para construção de grandes projetos de infraestrutura. Neste momento a empresa vislumbrou a oportunidade de retomar a liderança no setor já que dispunha de capital humano e acervo técnico suficientes para destacar a companhia frente às demais grandes empreiteiras (estando estas envolvidas nas investigações da Operação Lava Jato).

O que a empresa não esperava era que nesse mesmo ano ocorresse um colapso completo no setor de infraestrutura. Tal situação fez com que a empresa perdesse capital de giro, faturamento e a deixasse sem capacidade de fazer o turnover do seu backlog, a imobilizando e a “obrigando” a paralisar suas atividades, em 2019.

O plano de turnaround

Ainda em 2019, em meio à turbulência na qual a empresa se encontrava, vislumbrando o potencial detido pela Azevedo e Travassos, a Rocket Capital assume o controle da companhia e dá então início ao turnaround da empresa.

Seguindo o seu plano de reestruturação, em 2020, Gabriel Freire, advogado, especialista em recuperação de empresas do setor de infraestrutura assume a presidência do conselho administrativo, e exerce um importante papel na reestruturação da empresa, impulsionando as medidas de retomada de crescimento.

Sob o novo controle, além de ser evitada a abertura do iminente processo de recuperação judicial/extrajudicial, a empresa saiu de um faturamento zero, em 2019, para R$480Mi em 2022 e há estimativa de R$600Mi no encerramento de 2023, o que, graficamente, e em comparação com a progressão do P/L e backlog, se deu da seguinte forma:

Como parte do processo de reestruturação, desde o início do plano, foi prevista a capitalização da companhia via mercado de capitais, sendo este através de 3 (três) aumentos de capital, ao longo de 3 (três) anos, a fim de dar transparência e segurança ao investidor, de modo que os investimentos acontecessem à medida que os resultados também fossem acontecendo.

Em outubro de 2020 a empresa fez seu primeiro aumento de capital, no valor de R$43Mi, sendo R$13Mi em dinheiro e R$30Mi em capitalização de dívidas com credores.

Em 2021 ocorreu então o segundo aumento de capital, no valor de R$153Mi. Sendo este destinado à aquisição da Heftos. Uma prestadora de serviços, atuante no setor de óleo gás que, através de sua aquisição, permitiu à companhia agregar ao faturamento uma fonte de receita recorrente e mais rentabilidade, além de um ciclo econômico muito menor do que os processos até então utilizados pela Azevedo & Travassos. Destacando ainda a diversificação de receita por meio de prestação de serviço de manutenção de plataformas de petróleo, além de habilitar a companhia a participar do mercado de descomissionamento de plataformas, tanto de terceiros quanto próprias, com uma visão de mais longo prazo.

Em 2022, já com a empresa em plena operação, foi proposto o terceiro aumento de capital, sendo esse com destinação exclusiva para capital de giro.

O setor do petróleo e seu potencial

Tendo sido a primeira empresa privada a explorar petróleo no território brasileiro e tendo ao seu lado, na década de 80, apenas a Petrobras, na época, em razão de seu pioneirismo, “foi obrigada” a desenvolver tecnologias que suportassem seu negócio, bem como desenvolver processos e produtos, já que a atividade ainda estava em processo inicial no país e não existia tal suporte à produção, transporte e armazenagem do óleo e gás extraídos.

Evidentemente desenvolver tais atividades, à época, gerou uma expertise sem igual à companhia. Expertise essa que foi mantida na empresa através da manutenção de seu corpo técnico, sendo este inclusive representado pelo atual presidente, o engenheiro Ivan de Carvalho, que participou das primeiras atividades de exploração de petróleo por parte da Azevedo e Travassos, nos poços exploratórios de Mossoró.

Nos dias atuais, a virada de chave ocorreu quando a companhia percebeu que, diferentemente do que ela fazia no passado, com riscos muito maiores, existe hoje a possibilidade de explorar poços de petróleo maduros, ao invés de prospectar em novos poços, além da possibilidade de atuar em um novo e bilionário mercado que é o de descomissionamento de plataformas, sendo essas possibilidades inexistentes à época.

Descomissionamento de plataformas: um mercado bilionário.

Assim como todo projeto tem início, meio e fim, com a exploração de petróleo não é diferente. As plataformas de petróleo têm determinada vida útil e após o fim de seu ciclo produtivo o processo de desmobilização da plataforma se faz necessário e este é denominado descomissionamento. Um tema que tem crescido fortemente nos últimos anos e vem a ser a grande aposta da empresa para o futuro.

Ocorre que, no Brasil, nos próximos anos haverá uma grande demanda por serviços de descomissionamento. A maior empresa brasileira de exploração de petróleo, a Petrobras, informa, em seu Plano Estratégico, que o período de 2024 a 2028 contempla a previsão de dispêndio de US$ 11 bilhões em atividades de descomissionamento.

Ao site do maior operador de logística portuária e marítima do Brasil, a Wilson Sons, a especialista Taciana Amar estima que, até 2025, 20 descomissionamentos devem ser feitos no país.

Em entrevista realizada pela Levante Research, com o diretor de relações com investidores, Bernardo Mendonça e o vice presidente do conselho administrativo, Guilherme Carvalho, foram questionados sobre como a empresa conseguiria honrar projetos tão complexos e de custo tão elevados. Ambos reforçam que tais projetos serão integralmente financiados pelo contratante, que por sua vez, já conta com o custo de descomissionamento previsto em seu planejamento.

Obviamente em termos de capital humano, além da expertise já detida pela Azevedo e Travassos, a aquisição da Heftos veio para fortalecer tal mercado e habilitar a empresa a participar diretamente de possíveis licitações ou até mesmo adquirindo poços maduros e descomissionando seus próprios poços, visto que, ao efetuar a transferência de propriedade de um poço maduro, o vendedor deve também transferir o montante correspondente ao custo de descomissionamento do mesmo.

O turnaround da Heftos e o endividamento zero

Apenas para contextualizar, a Heftos era uma Unidade de Produção independente da UTC Engenharia (uma empresa em recuperação judicial) e, ao adquiri-la, apesar de a aquisição ter se dado na forma de “aquisição originária de propriedade”, afastando qualquer risco jurídico e financeiro de sua antiga controladora, que pudesse vir a incorrer sobre a companhia, a mesma precisava de capital de giro, pois a atividade vinha sendo atendida por linhas de crédito de curto/curtíssimo prazo com juros muito altos, linhas estas que foram integralmente quitadas em agosto de 2023 e impactaram negativamente nos recentes resultados apresentados pela Azevedo e Travassos.

Além do problema acima, foi ainda identificado um excesso de capital humano na companhia. Foi definida então a necessidade de demissão de 40% da força de trabalho da Heftos ao longo de 2022, o que gerou uma nova despesa não recorrente com encargos trabalhistas.

Somando tais fatores hoje equilibrados ao refinanciamento de impostos, através do REFIS, é possível afirmar que a empresa atualmente possui um balanço leve e saudável, tendo um grau de alavancagem próximo a zero.

Infraestrutura e diversificação

Tendo no setor de exploração de petróleo um ciclo de projeto mais curto, é possível classificar as receitas provenientes do setor como receitas recorrentes ou ordinárias. Por outro lado, como grande empreiteira que é, com especial capacidade técnica, e com situação confortável de caixa, hoje a companhia se permite escolher as licitações das quais pretende participar e buscar receitas extraordinárias, como já vem fazendo, principalmente nos setores de:

  • Saneamento, sobretudo com as recentes medidas provenientes do marco do saneamento;
  • Rodovias, em função das recentes concessões;
  • Manutenção na área de energia, devido à carência de mão de obra qualificada no mercado;
  • Dentre outras atividades relacionadas a infraestrutura tanto no Brasil quanto no exterior.

Com atuação focada principalmente nesses setores, hoje a empresa apresenta um backlog (conjunto de contratos já assinados) superior a R$600Mi e, somente em 2023, até o fechamento do 3° trimestre, a empresa já havia apresentadas mais de R$9Bi em orçamentos (pipeline), o que demonstra uma perspectiva agressiva de receita para a companhia nos próximos anos.

Cotação segue lucro?

Quem nunca ouviu tal expressão!? Pois bem, mesmo com o baixo volume de negociação, e se tratando de um case de turnaround, essa máxima fica bem evidente ao cruzar os dados de cotação da AZEV4 e dos resultados apresentados pela empresa desde 2019.

Fazendo tal cruzamento, fica evidenciado o momento no qual a empresa adquire Heftos e o impacto financeiro de curto prazo da aquisição nos resultados da companhia. Ficando clara a projeção e a ideia de longo prazo da empresa.

Um futuro de protagonismo

Levando em consideração os resultados entregues pela companhia, o bem sucedido turnaround executado, além de todo o planejamento, posicionamento e oportunidades de mercado, é possível acreditar que a empresa tende a voltar a ocupar local de destaque no cenário nacional e internacional, podendo inclusive apresentar um alto potencial de valorização de suas ações nos próximos anos.

Sobre o autor: Christian Lima é graduando em Engenharia Civil pela UNESA, graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Veiga de Almeira e possui MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV; CEO da Lima Engenharia, atua no setor de construção civil há 13 anos e no mercado de importação há 9 anos. Estuda e investe no mercado financeiro desde 2016.

NÃO SE TRATA DE RECOMENDAÇÃO DE COMPRA OU VENDA

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8 COMENTÁRIOS

  1. encerrou o ano e a empresa nao deu um piu sobre o petroleo prometido ainda para 2023.
    o MOU encerrou em Dezembro. e nem uma declaração.
    free float de 30%
    estão querendo o que com nos que investimos

    • Olá, Silvio! Obrigado por seu comentário. Sobre os MOUs vigentes, a informação publicada pela empresa via FRs é que hoje ela possui um MOU com a Petroil, assinado em 24/08, com vigência de 120 dias, prorrogáveis por igual período e um com a Nion, assinado em 09/10, com prazo de 75 dias, prorrogáveis por igual período. Desse modo os prazos ainda estão dentro do anunciado. Sigo atento e acompanhando por aqui.

  2. Atualmente estou empregado na HEFTOS que perdeu o contrato com a Trident do Brasil e alega que não tem dinheiro para pagar os direitos dos trabalhadores e TB não irá demitir ninguém. Existe uma organização para entrar com recurso contra empresa que até o momento não se pronuncia com nenhum plano de ação. Então sabendo disso seria bom vc rever estas informações pois eu TB sou investidor na bolsa de valores e não acredito na confiabilidade das informações sitadas acima.

    • Olá, Jonathas. Agradeço por compartilhar sua visão, mas é importante destacar que todo o conteúdo compartilhado neste artigo (e em todos que publico) tem como base informações públicas, bem como: releases, notícias e entrevistas de membros do conselho. Sobre o contrato com a Trident do Brasil, a informação pública diz que em 15 de julho de 2022 a empresa firmou um contrato de 12 meses com a companhia. Como após 15 de julho de 2023 não houve nenhuma comunicação de renovação, o encerramento de tal contrato já era algo de conhecimento público. Vale ainda ressaltar que as informações publicadas em artigos que publico são fruto de estudo em fontes confiáveis, para compartilhar informação e não desinformação.

  3. Christian Lima acredito plenamente, em tudo que foi colocado sobre AZEV4, e vamos aguardar ,os bons frutos meu amigo.

    Aliás como faço para segui-lo nas redes sociais hein.
    Tenha um 2024 muito abençoado meu amigo.

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