Julho vem sendo marcado pela expectativa do próximo COPOM no início de agosto. A maior parte do mercado já vê como certa o início do ciclo de corte de juros, porém, ainda há muitas divergências de opiniões sobre se será de 0,25 bp ou 50 bp. Alguns players acreditam que o sinal dado pelo último FED – que indica que podem haver mais duas altas até o fim do ano, chegando a 5,50 / 5,75 – pode inibir um corte mais agressivo do Banco Central aqui no Brasil. No entanto, outra parcela do mercado entende que, dada a atual taxa de inflação e o cenário macroeconômico, o corte já deveria ter começado. Hoje, o mercado trabalha com um corte de 50 bps na curva para agosto.
Ao analisar de uma perspectiva menos opinativa, nos últimos 12 meses, o Brasil teve uma inflação acumulada de 3,16% e o índice de junho apresentou a primeira deflação do ano, de – 0,08%. O IGPM, que historicamente puxa o IPCA, teve uma deflação de 6,86% (até junho). Isso mostra uma convergência muito importante dos preços em relação à meta. O IGPM é composto por 60% de IPA e 25% dele é composto por commodities. Levando em consideração as condições financeiras globais, onde as maiores economias estão desacelerando com o ciclo de aperto monetário e o dólar está perdendo força, o cenário sugere preços mais controlados.
No final de junho, na última reunião do CMN, tivemos uma mudança no tipo de meta de inflação, que passou de ano-calendário para meta contínua. Isso permite que o BC observe uma convergência à meta em um horizonte mais longo, proporcionando maior flexibilidade em sua política monetária no curto prazo.
O “arcabouço”, que era um dos maiores medos do mercado devido à trajetória e ao possível descontrole da dívida a longo prazo, acabou se alinhando com as expectativas do mercado. Apesar de muitas críticas, precisamos analisar os fatos e o que o mercado está precificando. Ficou evidente pela melhora da inflação implícita e do juro real da NTNB 2028 por exemplo, que marcaram pico em março, e hoje são, respectivamente, de 4,69 e 5,34, onde as implícitas em si fecharam 200bps.
Lembrando que os juros são formados por implícita + juro real, e a melhora desses dois componentes se refletiu no DI futuro em vértices mais longos, como o DI1F29, que fechou 300 bps em 4 meses. Isso transmite confiança do mercado na proposta do arcabouço e reflete em uma expectativa de inflação mais baixa no longo prazo.
No período entre março e julho, o Tesouro Nacional ofertou grandes volumes de LTN, com uma média aproximada de 15 bilhões por semana, e o mercado absorveu 100% das ofertas. Isso é outro sinal de confiança no aspecto fiscal e de melhora do cenário.
Esse sentimento de melhora faz com que a curva continue a apresentar um movimento de achatamento, ou “flattening”, como chamamos nas mesas de operações. A precificação do mercado hoje é de SELIC em torno de 9,25% no final de 2024, começando um ciclo de leves altas a partir de 2025. Obviamente, é difícil prever a direção da política econômica futura, a atividade econômica ou as condições financeiras globais, mas de toda forma, o mercado segue precificando juros mais baixos do que os atuais por mais tempo.
Empresas como Eztec (EZTC3), Even (EVEN3), Aliansce Sonae (ALSO3), Cosan (CSAN3) e Simpar (SIMH3) podem se beneficiar do corte de juros.
EZTC3 e EVEN3, ambas pertencentes ao setor de construção, são mais afetadas por serem de consumo cíclico e estão bem abaixo da média de seus múltiplos ev ebitda. Negociam, em média, a 0,6 preço sobre valor patrimonial. Já ALSO3 se beneficiará pela retomada de consumo devido ao corte de juros, o que aumentará a receita da companhia. CSAN3 e SIMH3 são setores que ainda têm muita margem de segurança e espaço para expansão de múltiplos. Como possuem mais dívidas, se beneficiarão com a redução da despesa financeira.
Matéria escrita pelo parceiro Hélio Globlequener
Sobre o Autor: Hélio Globlequener é formado em Administração com ênfase em Finanças, Assessor de Investimentos e Sócio Fundador da Squalo Investimento onde hoje é responsável por toda parte estratégica do escritório. Atua também como trader de DI na pessoa física.
Twitter do Hélio: https://twitter.com/globlequener
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